sábado, 6 de outubro de 2012

O desafio da inclusão

O desafio da inclusão
A construção de uma sociedade inclusiva exige mudanças de idéias e práticas. A inclusão é tão agregadora que seus benefícios não são somente sentidos pelas pessoas que estão excluídas, mas, por toda a sociedade. Diversidade não é peso. Diversidade é riqueza.
É nos bancos escolares que aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades e repartir as tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversidade dos talentos humanos e a valorização do trabalho de cada pessoa para a obtenção de metas comuns de um mesmo grupo. Além das sugestões referentes ao ensino nas escolas comuns do ensino regular, uma educação de qualidade para todos implica em mudanças relativas à administração e aos papéis desempenhados pelos membros da organização escolar.
No ensino para todos e de qualidade, as ações educativas se pautam por solidariedade, colaboração, compartilhamento do processo educativo com todos os que estão direta ou indiretamente nele envolvidos.
Para ensinar a turma toda, parte-se da certeza de que as crianças sempre sabem alguma coisa,
de que todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são próprios. É fundamental que o professor nutra uma elevada expectativa pelo aluno. O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais de cada aluno.
As dificuldades, deficiências e limitações precisam ser reconhecidas, mas não devem conduzir
ou restringir o processo de ensino, como habitualmente acontece.
Independentemente das diferenças de cada um dos alunos, temos de passar de um ensino
transmissivo para uma pedagogia ativa, dialógica e interativa, que se contrapõe a toda e qualquer
visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber.
O professor precisa deixar de ser um .palestrante, papel que é tradicionalmente identificado com a lógica de distribuição do ensino. Esta lógica supõe que os alunos ouçam diariamente um discurso, nem sempre dos mais atraentes, em um palco distante, que separa o orador do público.
Para ensinar a turma toda, o professor não utiliza o falar, o copiar e o ditar como recursos
didáticos pedagógicos básicos. Ele partilha com seus alunos a construção/autoria dos conhecimentos produzidos em uma aula, restringindo o uso do ensino expositivo. Em sua sala de aula os alunos passam a interagir e a construir ativamente conceitos, valores e atitudes.
Esse professor arranja e explora os espaços educacionais com seus alunos, buscando perceber
o que cada um deles consegue apreender do que está sendo estudado e como procedem ao avançar nessa exploração.
Os diferentes sentidos que os alunos atribuem a um objeto de estudo e as suas representações
vão se expandindo e se relacionando e revelando, pouco a pouco, uma construção original de
idéias que integra as contribuições de cada um, sempre bem-vindas, válidas e relevantes.
As diferenças entre grupos étnicos, religiosos, de gênero etc. ensejam um modo de interação
entre eles, que destaca as peculiaridades de cada um gerando, naturalmente, embates necessários à construção da identidade dos alunos.
Ele deverá propiciar oportunidades para o aluno aprender a partir do que sabe e chegar até onde foi capaz de progredir. Aprendemos quando resolvemos nossas dúvidas, superamos nossas incertezas e satisfazemos nossa curiosidade.
Certamente um professor que engendra e participa da caminhada do saber com seus alunos,
como nos ensinou Paulo Freire (1978), consegue entender melhor as dificuldades e as possibilidades de cada um e provocar a construção do conhecimento com maior adequação.
Um dos pontos cruciais do ensinar a turma toda é a consideração da identidade sócio-cultural
dos alunos e a valorização da capacidade de entendimento que cada um deles têm do mundo
e de si mesmos. Nesse sentido, ensinar a todos reafirma a necessidade de se promover
situações de aprendizagem que formem uma trama multicor de conhecimentos, cujos fios
expressam diferentes possibilidades de interpretação e de entendimento de um grupo de pessoas que atua cooperativamente.
Sabe-se, hoje, que as deficiências não podem ser medidas e definidas por si mesmas e por
intermédio, unicamente, de avaliações e de aparatos educacionais, médicos e psicológicos conhecidos.
É preciso levar em conta a .situação de deficiência., ou seja, a condição que resulta da interação
entre as características da pessoa e as dos ambientes em que ela está provisoriamente ou
constantemente inserida. Esse novo conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) reforça os
princípios inclusivos de transformação dos ambientes de vida das pessoas em geral, inclusive o
educacional, para que possam estar adequados a atender às peculiaridades permanentes e
circunstânciais dos seres humanos. Segundo esse mesmo conceito, quando se deseja conhecer
os motivos do sucesso ou do fracasso na aprendizagem de conteúdos escolares, é preciso analisar igualmente o ensino pelo qual foram ministrados!
Todos os alunos deveriam ser avaliados pelos progressos que alcançaram nas diferentes
áreas do conhecimento e a partir de seus talentos e potencialidades, habilidades naturais e
construção de todo tipo de conhecimento escolar. Lembre-se que a LDBEN dá ampla liberdade
às escolas quanto à forma de avaliação, não havendo a menor necessidade de serem mantidos
os métodos usuais.
Os modos de avaliar a aprendizagem são outro entrave à implementação da inclusão. Por isso,
é urgente substituir o caráter classificatório da avaliação escolar, através de notas e provas, por
um processo que deverá ser contínuo e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada
vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de todos os alunos. Essa medida já diminuiria
substancialmente o número de crianças e adolescentes que são indevidamente avaliados,
encaminhados e categorizados como deficientes nas escolas regulares. Esse tópico será
tratado neste documento, com mais detalhes, posteriormente.
A avaliação do desenvolvimento dos alunos também muda para ser coerente com as demais
inovações propostas. O processo ideal é o que acompanha o percurso de cada estudante, do
ponto de vista da evolução de suas competências, habilidades e conhecimentos. A meta é
mobilizar e aplicar conteúdos acadêmicos e outros meios que possam ser úteis para se chegar
a realizar tarefas e alcançar os resultados pretendidos pelo aluno. Apreciam-se os seus progressos na organização dos estudos, no tratamento das informações e na participação na vida social. Desse modo, muda-se o caráter da avaliação que, usualmente, se pratica nas escolas e que tem fins meramente classificatórios. Temos interesse em levantar dados para compreensão do processo de aprendizagem e aperfeiçoamento da prática pedagógica.
Para alcançar sua nova finalidade, a avaliação terá, necessariamente, de ser dinâmica,
contínua, mapeando o processo de aprendizagem dos alunos em seus avanços, retrocessos, dificuldades e progressos.
Vários são os instrumentos que podem ser utilizados para avaliar, de modo dinâmico, os caminhos da aprendizagem, como: os registros e anotações diárias do professor, os chamados portfólios e demais arquivos de atividades dos alunos e os diários de classe, em que vão sendo colecionadas as impressões sobre o cotidiano do ensino e da aprendizagem. As provas também constituem opções de avaliação desejáveis, desde que haja o objetivo de analisar, junto aos alunos e os seus pais, os sucessos e as dificuldades escolares.
É importante também que os alunos se auto-avaliem e nesse sentido o professor precisa criar
instrumentos que os exercitem/auxiliem a adquirir o hábito de refletir sobre as ações que realizam
na escola e como estão vivenciando a experiência de aprender.
A auto-avaliação deve levar o aluno a perceber o que conseguiu acrescentar ao que já
sabia e conhecer as suas dificuldades no sentido de assimilar novos dados e o que é preciso superar para ultrapassá-las.
Finalmente, é importante ressaltar que não existem receitas prontas para atender a cada
necessidade educacional de alunos com deficiência que a natureza é capaz de produzir.
Existem milhares de crianças e adolescentes cujas necessidades são quase únicas no mundo
todo. Assim, espera-se que a escola, ao abrir as portas para tais alunos, informe-se e oriente-se
com profissionais da Educação e da Saúde sobre as especificidades e instrumentos adequados
para que aquele aluno encontre ali um ambiente adequado, sem discriminações e que lhe
proporcione o maior e melhor aprendizado possível.


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